domingo, 11 de agosto de 2013

Re(Verso) entrevista: Jaime Alem

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Para comemorar o dia dos pais, a Re(Verso) traz entrevista exclusiva com Jaime Alem
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Pai do Tomás. Assim, simplesmente, Jaime Alem - um dos mais reconhecidos maestros da música popular da atualidade - gosta de ser chamado. Neste bate-papo especial com a comunidade Maria Bethânia Re(Verso), Jaime conta um pouco de seus projetos, cada vez mais dedicados à divulgação do trabalho autoral que deixou guardado por anos e das novas criações. Alem também fala sobre a tradição dos maestros populares no Brasil, o diálogo estético dos músicos com os cantores e a importância da viola na arte brasileira. As perguntas elaboradas pelo jornalista Renato Forin Jr., a pedido de Edu Lott da Re(verso), foram respondidas por e-mail ontem (10/agosto).
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Re (Verso) - Prezado Jaime, para a Re(Verso) é uma honra contar com essa entrevista. Acompanhamos há anos seus acordes exatos e as criações autorais deste violão que conjuga de forma salutar tradição e novidade.
Jaime - Boa tarde. Para mim é um prazer este contato com vocês. Já estava com saudades. Lembro todos os dias de vocês porque guardei a garrafa daquela cachacinha maravilhosa, Engenho Doce, que vocês me deram.
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Re(Verso) – Você considera o violão, a viola, o verdadeiro timbre brasileiro? Como o país se encontra neste instrumento?
Jaime - Violão e viola são instrumentos de mais fácil acesso para a maioria da população e sua larga difusão nos dá essa ideia de "apropriação" pelo brasileiro. Mesmo pelo fato de termos grandes instrumentistas como Baden Powell, Rafael Rabelo, Garoto, Zé Menezes, Carlos Barbosa Lima, Yamandu Costa e tantos outros grandes musicistas dos quais nos orgulhamos, não podemos atribuir ao violão uma exclusividade brasileira.
Já a viola está presente em todo o território brasileiro de maneira bem mais profunda e enraizada. Podemos dizer que, com exceção de Portugal, nenhum país tem um instrumento comparável à viola. Neste caso podemos dizer que é o mais brasileiro dos instrumentos.
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Re(Verso) - Há no Brasil muitos músicos, arranjadores e compositores de renome e excelência. Poucos, porém, chegam ao patamar de “maestro” na canção popular.  Sem modéstia, quais qualidades ou características um maestro precisa ter? A sua formação musical sempre rumou nesta direção da abrangência, da condução de uma banda, ou o caminho aconteceu naturalmente?
Jaime - O Brasil tem uma grande tradição de maestros populares. Vamos lá: Pixinguinha, Radamés Ganatalli, Maestro Gaya, Lirio Panicalli, Antonio Carlos Jobim, etc - cada um no seu tempo e lugar, alguns com mais visibilidade, outros nem tanto. Claro que trabalhar com um grande cantor ou cantora traz um pouco mais de popularidade.
Conhecimento é importante, tempo de estrada também, mas liderança é uma coisa fundamental aos grandes maestros, além de paciência e generosidade tanto para com artistas, quanto para com os colegas. A música tem que ser amorosa, mesmo nos momentos de tratar os conflitos inerentes ao trabalho. Agora, não esperemos que ser amoroso implica em fugir dos conflitos e das responsabilidades.
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Re(Verso) -  Para o músico, é muito grande a diferença entre um concerto instrumental e um concerto com acompanhamento vocal? Quais desafios o diálogo com o cantor impõe? Parece que essa diferença foi a tônica de um de seus últimos shows, com Leila Pinheiro, em homenagem a Fátima Guedes... Fale um pouco sobre este trabalho.
Jaime - A diferença é o alvo. O instrumentista é o foco da atenção do público tanto quanto o cantor. Mudando a função, muda o alvo. Quando eu acompanho alguém, a responsabilidade é igual, porém,  quem está na frente é muito mais exposto, sujeito tanto a idolatria, quanto a críticas. Na verdade, o meu encontro com Leila Pinheiro foi "mesmo" um encontro , muito mais afetivo do que propriamente um show esquematizado.O convite feito gentilmente pelo  criador do projeto,  Pedrinho Madeira, me colocou diante de duas oportunidades - a primeira, trabalhar a obra de Fátima Guedes, o que já foi uma honra; a segunda, compartilhar o palco com Leila Pinheiro, outra grande honra. Foram três tempos de show: o  primeiro, um instrumental comigo, mais o João Carlos Coutinho no piano e o Zé Canuto no sax;  o segundo, a parte cantada com a Leila, e o terceiro,  uma "canja", uma "jam" , onde tocamos e cantamos juntos sem termos ensaiado mais do que 15 minutos durante o "sound chek".Foi muito divertido e inesperado.
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Re (Verso) - Pode adiantar algum dos seus planos e novos projetos profissionais? Como andam as composições, o trabalho autoral, as parcerias?
Jaime - Posso dizer que a gravação do CD "DEZ CORDAS DO BRASIL" também foi de forma inesperada, não planejada. A vida para mim é uma sequencia de várias vidas em tempos diferentes. Comecei tocando em bailes com 13 anos de idade, depois com a Nair Cândia formamos a  dupla Jaime e Nair, trabalhei nos estúdios do Rio por 10 anos, onde já fazia arranjos para grandes orquestras. Em 1979 eu e Nair lançamos o LP "Amanheceremos"  e, finalmente,  comecei a trabalhar com Maria Bethania em 1982. Um desses marcos com certeza foi a gravação do disco com a viola caipira em 2009, produção do Chico Adnet, que tem enorme importância neste processo.
Agora a dupla Jaime e Nair retoma a trilha. Estamos preparando um novo trabalho.
No dia 31 de agosto, vamos fazer um show em São Paulo, no CCSP, na Vergueiro, mostrando um pouco de tudo, inclusive coisas bem novas.
Nas composições, eu tenho parceria principalmente com o Sergio Natureza e algumas com meu irmão João Marcos, que assina Gambetta ( nome do meu avô do lado português). Eu tenho muita fé no que faço e planos de gravar um CD com as canções instrumentais e cantadas - algumas estão guardadas há muitos anos, como foi o caso de "Doce Viola". Acho que tenho um certo ciúme da minha obra e por isso não saio distribuindo por aí. Só espero viver o suficiente pra poder mostrar tudo que tenho guardado, mais o que venho compondo atualmente.  A partir do CD, nasceu a "Suíte Sinfônica Caboclinha", onde contextualizei os temas da viola caipira dentro de uma grande formação orquestral. Acho, não tenho certeza, que é o primeiro concerto para viola caipira e Orquestra Sinfônica.
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Re(Verso) - Muito obrigado pela disponibilidade em nos atender.
Jaime - Um grande e carinhoso abraço ao pessoal da Re(Verso).  Espero que gostem da entrevista...
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Jaime Alem com o filho Tomás
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Com esta foto, a Re(verso) deseja a filhos e a pais de todas as idades um dia de carinho, afeto e luminosas lembranças.
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Um comentário:

Anônimo disse...

Aí, paizão! tem mais é que lamber a cria, sempre, pois essas criaturas dão sentido às nossas vidas.
Parabéns, maestro!
Alberto Capucci Filho, de Jacareí
albertocapucci@ig.com.br