quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Re(Verso) entrevista: Filipe Catto

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Um furacão chamado Filipe Catto
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Cantor concede entrevista à Re(Verso) sobre o lançamento do DVD “Entre Cabelos, Olhos e Furacões”
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Para Filipe Catto, o encontro do artista com o público, no ato do espetáculo, é um “ritual”. Momento de transformação para todos os envolvidos nesta comunhão estética. Muito se autoexplica pela expressão “Entre Cabelos, Olhos e Furacões”, nome do seu primeiro DVD e CD ao vivo, lançado recentemente pela Universal Music em meio à expectativa de uma legião de admiradores. Não é à toa: desde que Filipe se projetou no star system, pululam vídeos na internet que evidenciam a integridade cênica do artista, que não pode ser definido apenas como “um contratenor afinadíssimo”.

Filipe Catto, com 26 anos incompletos, mostra maturidade e consciência sobre seu caminho na música. É no passado dos grandes shows de canção brasileira que ele se inspira na concepção do espetáculo visceral, de repertório eclético, gravado em fevereiro deste ano no Auditório Ibirapuera (São Paulo).

A coerência de Filipe se faz transparente na entrevista exclusiva que concedeu à Comunidade Maria Bethânia Re(Verso). As perguntas e edição são do jornalista paranaense Renato Forin Jr. a convite de Edu Lott, dirigente da Re(Verso) que a tem tornado um espaço de discussões sobre arte e cultura que extrapolam os temas relacionados a Maria Bethânia. Intérprete, aliás, de quem Filipe se declara admirador, junto de um panteão que inclui nomes como Clara Nunes, Ney Matogrosso, Elis e Milton Nascimento.

O cantor fala de seu lado passional em cena, do papel da intuição no momento de interpretar canções e da construção do show dirigido por Ricky Scaff.

Re(Verso) - De que modo o nome "Entre cabelos, olhos e furacões", expressão da canção "Ave de Prata", traduz a essência deste trabalho e de seu ser de artista?

Filipe - É como eu me encontro no palco: literalmente entre cabelos, olhos e furacões... Essa expressão define para mim tudo que existe de místico, profundo e transformador naquele momento. O palco é um tempo onde a gente se transforma através da arte e do publico, e isso acontece com todos ali presentes. É o público se transformando, o artista, a banda... Este é um espetáculo que não acaba como começa, eu sou um artista no inicio e outro no fim, e isso ficou muito claro no final do roteiro quando canto Ave de Prata. O movimento que o encontro entre o cantor e o público propõe me motiva a fazer o que faço, e me define enquanto artista.

Re(Verso) -  A nossos olhos e ouvidos, a passionalidade parece ser uma constante em seu repertório. Quais critérios você utiliza na escolha das canções que integram este set-list?

Filipe - Eu sou muito intuitivo, muito mesmo. As coisas parecem fazer mais sentido depois do que durante. Eu canto o que gosto, o que me toca, o que me emociona, mas eu parto muito das letras pra construir um repertório. É essencial que aquelas palavras me digam respeito, que fale, do meu momento presente... Deve ser por isso que soa tão passional, porque aquilo tudo é verdade, acontece na primeira pessoa sempre.

Re(Verso) - Por falar em repertório, percebe-se em vários momentos do show um trabalho preciso na edição de canções, de modo que elas dialoguem, tenham coerência. O exemplo mais claro talvez seja o bloco que começa com "Eu menti pra você" e segue até "Galope". É você que organiza o roteiro? Fale um pouco sobre essa construção...

Filipe - Eu e o Ricky Scaff, que dirige o show. É sempre uma delícia esse momento de conceber o espetáculo, porque o palco não é disco: a gente precisa propor sensações, e é isso que norteia essa sequência de canções. Elas têm que aparecer, se contradizerem, se complementarem. É como se uma fosse puxando a outra de acordo com a viagem que a gente tá propondo.

Re(Verso) - Você integra qualidade vocal a uma potente interpretação. Este espetáculo tem direção cênica ou você se auto-dirige? Qual é sua relação com o teatro?

Filipe - Este é um espetáculo dirigido pelo Ricky Scaff, que tem uma sensibilidade apuradíssima. A mão dele é muito sutil, porque ali estamos falando de criar um percurso narrativo através das canções de forma que isso tudo seja natural, que as pessoas nem percebam e acabem tomando aqueles sentimentos pra si e colocando sua própria interpretação dos eventos. Inclusive as marcações são mais estéticas, no sentido de construir imagens no palco, do que corporais. Não tem essa de interferir no uso do corpo na canção. A única instrução que eu sigo é a de me jogar profundamente em cada musica, que o resto a luz, o cenário e a concepção visual vão apenas potencializar o que já existe ali. Por isso mesmo, apesar de eu amar o teatro, não sou ator. Eu não sou técnico em cena, eu sou totalmente emocional, mas faço isso naquele ou neste foco de luz, isso já se tornou orgânico.

Re(Verso) -  Vídeos de suas interpretações espalham-se pela internet há tempos, mas só agora acontece o lançamento oficial do primeiro DVD - essa mídia primordial para intérpretes inteiros. Foram quantos anos de espera? Quais são suas expectativas para o DVD?

Filipe - Foram anos de preparação, não exatamente espera, porque cada coisa tem seu tempo de acontecer. Eu sempre senti uma demanda imensa do público por esse projeto, inclusive porque a divulgação do meu trabalho é feita mais através dos vídeos do que da musica em si. Existe um conjunto da obra que me representa de uma forma mais forte, mais precisa, e minha arte passa por todas essas questões. Acho que esse dvd fala por si só, foi tão bom e gratificante poder realizar tudo isso que agora eu só quero que ele voe, se comunique e faca parte da vida das pessoas.

Re(Verso) -  Em que artistas brasileiros você se espelha nesta construção de espetáculo completa (figurino, cenário, roteiro...)? Quem são seus ídolos no Brasil?

Filipe - Esse é um show inspirado livremente nos grandes shows do passado, quando existia uma preocupação cênica muito maior. Coisas feitas pela Elis, pela Clara Nunes, pela Gal, pelo Milton Nascimento, Ney... e que a Bethânia vem fazendo desde então. Não é teatro musical, mas um espetáculo de musica, com conceito, canção, narrativa. Nossa preocupação foi a da transformação, e é disso que estamos falando no palco. O artista que se transforma, o público que se transforma, o movimento que existe no palco e na sua expressão... Entre cabelos, olhos e furacões. E com toda sinceridade do mundo, pra que isso seja genuíno, e não apenas uma proposta, mas um ritual.
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2 comentários:

Klaudia Alvarez disse...

Parabéns ao blog pela excelente entrevista com o magnífico Filipe Catto, um intérprete único da nossa MPB. Sucesso total a ele.

roger disse...

único,acho que não..honestamente prefiro milton carlos 1 milhão de vezes....ou mesmo ney a época dos secos e molhados...um pouco forçado esse cara...tempestade em copo dágua...esse imitando elis é terrivel..desculpas.só minha opinião.