sábado, 26 de julho de 2014

"Angélica"

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Existem (Juro!) os admiradores que acreditam que Dona Maria foi "política" unicamente no show "Opinião", tem aqueles que desconhecem que em pleno 1979, durante o "governo" do Ditador João Baptista de Oliveira Figueiredo, General-do-Exército, em pleno show "Maria Bethânia" ("Álibi"), Dona Maria foi mais política que nunca. Munida de um texto de Carlos Drummond de Andrade, "Anistia", e com a bela canção "Angélica", de Chico Buarque e Miltinho (Pesquisem Zuzu Angel e entenderão a letra/música), "Ela" mandou um recado claro e direto aos malditos Ditadores.
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Stuart Angel, morto na Base Aérea do Galeão, no Rio, depois de ser arrastado por um jeep, tendo a boca amarrada ao cano de descarga do veículo para aspirar a fumaça, é lembrado na letra. Triste lembrar isso, mas quando Bethânia canta "quero cheirar fumaça de óleo diesel", os autores não fizeram outra coisa que não remeter-nos a esse momento.
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"Quem é essa mulher
Que canta sempre esse estribilho?
Só queria embalar meu filho
Que mora na escuridão do mar

Quem é essa mulher
Que canta sempre esse lamento?
Só queria lembrar o tormento
Que fez meu filho suspirar

Quem é essa mulher
Que canta sempre o mesmo arranjo?
Só queria embalar meu anjo
E deixar seu corpo descansar

Quem é essa mulher
Que canta como dobra um sino?
Queria cantar por meu menino
Que ele já não pode mais cantar"

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"Anistia, teu nome é perdão e teu outro nome é esquecimento, mas, começo a não compreender teu sentido. Vens com um ramo de oliveira na mão direita, mas ocultas na outra algo parecido com uma vergasta.Demoraste tanto a vir, e pareces hesitar ainda na etapa final do caminho. Consultas papéis e mais papéis, como se no papel, e não no espírito que em todos os tempos te inspirou, estivesse a indicação precisa do teu roteiro. Um só papel e umas poucas linhas te bastam. Eu queria ver-te resplandecente em tua pureza e integridade. Quero-te alta e perfeita, e não uma baixinha anistia de quatro dedos e andar cambaio. Quero que voes. Com asas te imagino, sobre os desencontros e mesquinhezas dos pobres intérpretes de tua grandeza luminosa. Vem completa, vem de túnica branca, vem nua, anistia." 

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"Chega de tentar dissimular e disfarçar e esconder
O que não dá mais pra ocultar e eu não posso mais calar..."

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Mas eu gostaria de citar um outro momento do show "Álibi", onde também uma outra canção assumia-se inteiramente política: Cálice! Escrita em 1973 por Chico Buarque e Gilberto Gil e proibida no Phono daquele ano, a música tinha em sua letra passagens perturbadoras de um tempo que não queremos novamente. O próprio nome da canção não é, senão, uma ordem dos militares e torturadores aos presos políticos: cale-se! Pois bem... 
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