sábado, 28 de abril de 2012

[OFF] "Tabaroinha" novo CD de Mariene de Castro

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Em "Tabaroinha", segundo trabalho pela gravadora Universal, Mariene de Castro reafirma a força indelével de seu canto.
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Foi lançando mão do diminutivo feminino da expressão-adjetivo tabaréu que a cantora baiana Mariene de Castro construiu o conceito com que alinhavaria o seu novo trabalho, Tabaroinha. Não é preciso enveredar, no entanto, pelos caminhos da semântica a fim de desnudar o significado do vocábulo comumente usado nos interiores do Brasil para designar aquela menininha acanhada, matuta, caipira.
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Mariene de Castro é mesmo uma tabaroinha por natureza, mas seu canto, sua arte, embora preserve de forma muito íntima e indelével as referências culturais interioranas que acabariam por se converter em matrizes para a constituição de um trabalho singular, traduzem a maturidade de uma cantora absolutamente pronta para brilhar nos grandes centros urbanos do Brasil e do restante do mundo. Não à toa encantou a França, onde a crítica especializada a comparou com Edith Piaf pela arrebatadora força cênica que, por si só, ilumina qualquer palco.
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Não há hiato para dúvidas: Mariene de Castro possui uma marca autoral na seleção e interpretação do repertório que seduz não somente pela incrível capacidade de preservar a memória de ícones e ritmos quase esquecidos do nosso cancioneiro como também pela explosão cênico-interpretativa com que os revela a uma nova geração com sede de cultura.
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A perspicácia em apresentar a pluralidade dos ritmos brasileiros, que fazem do país uma terra singular na cena internacional, é o grande trunfo desta tabaroinha baiana que privilegia os compositores que sempre fizeram parte de sua memória afetiva e cujas canções inspiraram-na ao ofício do canto. Os conterrâneos Dorival Caymmi (1914 – 2008), Nelson Rufino e Roque Ferreira, recorrentes na discografia da intérprete, novamente são reverenciados. Do primeiro, Mariene pinça uma relíquia imortalizada no universo infantil do Sítio do picapau amarelo: História pro sinhozinho, registrada por Maria Bethânia em Pirata (2006) e que na década de 1970, para a adaptação televisiva da obra de Monteiro Lobato, foi convertida em tema da personagem Tia Anatáscia. É a versão infantil, que altera no refrão o nome de ‘Sinhá Zefa’ para ‘Tia Anastácia’, no entanto, a selecionada pela cantora para homenagear Caymmi. De Rufino, o samba Amuleto da sorte, que lhe foi dado de presente, já nasceu clássico e se qualifica para figurar no ranking das grandes criações do autor de hits imortalizados por um cast de intérpretes famosos que inclui nomes como Martinho da Vila, Nara Leão, Elza Soares, Beth Carvalho, Zeca Pagodinho e Alcione. Roque Ferreira, por sua vez, é saudado em três faixas, o que revela a paixão da artista pela obra do aclamado compositor. Foguete, xote com versos pontuados pela costumeira delicadeza de Roque, traduz com singeleza o romantismo, as paixões rasgadas do interior, e chega até a prestar devidas deferências ao poeta recifense João Cabral de Melo Neto, um momento de pura beleza neste álbum com a cara e a alma do Brasil. Maria Bethânia foi a primeira a apresentar a canção ao público com um lindo registro no DVD ‘Tempo, tempo, tempo, tempo’ (2005).
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Entre os muitos resgates a que se propõe realizar em Tabaroinha para atestar sua qualidade como intérprete, Mariene não esquece daqueles que ajudaram a construir a história da música brasileira. Bate-cabeça, portanto, com vontade para o nosso Oxalá do Baião, Luiz Gonzaga, celebrando o centenário de nascimento do mestre pernambucano com o registro de Estrada de Canindé. Sublime! Ela contempla ainda Martinho da Vila, repaginando o sucesso Roda ciranda, alçada ao top ten das rádios por Alcione em 1984 em decorrência da gravação (em dupla com Maria Bethânia) no disco Da cor do Brasil.
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Apaixonada que é pelo samba, Mariene reconhece a importância das grandes intérpretes femininas que impulsionaram o gênero no mercado fonográfico, como a saudosa Clara Nunes, a quem dedica a gravação de Um ser de luz, canção do trio Paulo César Pinheiro/João Nogueira/Mauro Duarte, feita para homenagear a cantora mineira, morta repentinamente em 1983 após um choque anafilático durante uma cirurgia de varizes.
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Com sua poderosa voz, Mariene de Castro nos intima a acreditar em novos caminhos para a música no Brasil e nos leva à elaboração de um autorretrato verdadeiro diante das belezas e dos contrastes de um país que tem cheiro e sabor de terra molhada, em que todos somos eternos tabaréus. Ainda bem!
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Créditos:
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Texto: Vagner Fernandes
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Fotos Douradas:encarte do CD
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Fotos Vermelhas: Renato Forin Jr., registro de uma apresentação de Mariene de Castro, em Salvador/2012
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CLIQUEM NAS FOTOS PARA AMPLIAR.
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2 comentários:

Flávia Fonseca disse...

Um único dia de show com ingressos esgotados..... Há anos espero a oportunidade de vê-la cantar aki no Rio..... Que pena! Vou ficar no aguardo do próximo. Oxalá ele seja em breve!
Flávia Fonseca

Carol disse...

Lindo texto. Linda descrição. Salve, Mariene de Castro.