sexta-feira, 6 de março de 2009

Show Maria (1988)



Maria: simples, cantando o amor

Nada muito teatral. Apenas uma mulher no palco, cantando, canções, sambas e até um maracatu misturado com rock. A sonorida acústica, as roupas, brancas e azuis. Textos de Van Gogh e da poeta Nélida Piñon apenas ilustram alguns momentos. A cantora também não acredita que seus gestos tenham um significado especial desta vez. Existe apenas o essencial em cena, como sugere o nome do show: Maria, que Bethânia apresenta de amanhã a domingo, sempre 21 horas, no Anhembi.

"Eu sonhei com o nome do show. Contei a Caetano e ele riu, porque estava pensando em chamar seu novo disco de José. Chico me escreveu um bilhete, agradecendo porque sempre me chamou de Maria. Agora, descobri que seu disco vai se chamar Francisco. Estava cansada da sonoridade sempre igual, em todos os shows do pessoal da nossa geração. Apesar das nuances de repertórios, o som era, igual, sempre exuberantes ou não, os mesmos teclados eletrônicos. Optei por uma coisa mais acústica, violão, viola, baixo acústico com bateria, percussão. O novo disco de Caetano é bem acústico também. Escolhi cantar o que quero. E o resultado é um show romântico, apaixonado. O amor é o tema, das dores que ele provoca ao prazer. Foi aí que eu entendi por que sonhei com esse nome."

Maria tem direção da Fauzi Arap. "Ele ajudou na escolha do repertório, organização do roteiro, marcação de cenas e principalmente como amigo". Em mais de 20 anos de carreira, poucas vezes Bethânia se afastou da assessoria de Arap (o show 20 anos de Paixão de 85 foi dirigido por Bibi Ferreira).

Do início da carreira, no Teatro Opinião, em 65, ela guarda o senso de espetáculo teatral. Mas, desta vez, isso não é essencial. "O show se transforma muito, dependendo do humor da banda, do meu humor. Tem uma teatralidade por conta da simplicidade".

O azul de um de seus trajes pode ser o mesmo de Eu e Água, uma canção que Caetano compôs para ela. "São as águas todas, do ventre da mãe, a água de meu pai, a água do sonho da Mãe Menininha". Quereres, um rock de Caetano, por insistência dela ganhou batida de maracatu, "principalmente nos momentos poéticos mais fortes de Caetano". O guitarrista da banda, Jaime Alem, executou todos os arranjos sugeridos por Bethânia e Arap.

Há outros maracatus em Maria como: Recado Falado e Primeira Manhã, ambos de Alceu Valença. A banda que a acompanha – José Maria Rocha (piano), Moacyr Albuquerque (baixo), Alem (guitarra), Marcelo Bernardes (sopro), Tutti Moreno (bateria), Bira da Silva e Djalma Corrêa (percussão) – toca Sanfona, um outro maracatu, desta vez assinado por Egberto Gismonti. Mais canções de Caetano: Ciúme e Tá Combinado as antigas Explode Coração e Grito de Aleta, de Gonzaguinha.

Bethânia também vai interpretar a primeira canção que cantou num palco, ainda na Bahia; chama-se Provérbio, um samba-canção de Luis Bandeira. Jura que não vai cantar Errei, Sim um dos sucessos de Ataulfo Alves na voz de Dalva de Oliveira. A expressão do rosto da cantora, no entanto, desautoriza essa informação.

Apesar de ser acusada de repetição pelos críticos, Bethânia continua a ser um mistério. De pé, diante de seu cenário, só canta o que quer. Podia ter aderido ao rótulo de cantora de protesto, nos anos 60. Ou ter optado pela segura linha já estabelecida da Bossa Nova. Em plena agitação tropicalista, Bethânia continuou independente, apesar de ter aconselhado Caetano a usar guitarras, como Roberto Carlos e o pessoal da Jovem Guarda. Ela, ao contrário, começou a cantar boleros e sambas doídos, ainda em 67. Reeditou músicas de Noel, que pareciam para sempre esquecidas, guardadas em registro esparsos: "Quando crianças, ouvíamos tudo no rádio, e eu e Caetano temos boa memória". Bethânia só canta o que quer: "Eu gosto de fazê-lo com liberdade, cantar é ser livre. Qualquer rótulo ou compromisso me prende. Meu estilo é sempre uma maluquice. Rock com baião, maracatu e rock. Não estou ligada a nenhum princípio, canto o que dá prazer. Enquanto compositores e poetas me deixarem, o público me ouvir e eu quiser cantar".

Cristina Iori – Jornal da Tarde, 05/11/1987

Abaixo, o especial "Maria", que foi exibido na extinta TV Manchete em 1988. Dividido em 6 Partes para download.

1ª Parte
2ª Parte
3ª Parte
4ª Parte
5ª Parte
6ª Parte

E neste link abaixo, o download do áudio do espetáculo.

DOWNLOAD AQUI

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